10 dias em silêncio
Retiro de Meditação Vipassana
Você já pensou como seria ficar 10 dias em silêncio?
Eu experimentei e encontrei tantas respostas no silêncio que gostaria de compartilhar um pouco dos caminhos que percorri na paz dessa quietude. Dizem que quando algo chegará em nossas vidas recebemos sinais durante o percurso… a vipassana chegou assim para mim, gradativamente, por três anos antes de eu viver essa experiência, como na calmaria de um destino que nos espreita para a hora certa.
Eu fui atraído pela oportunidade do silêncio, achei interessante e acessível ao passo que o universo da meditação era pouquíssimo conhecido para mim, anos atrás eu experimentei um aplicativo que se chama Meditopia, usei por uns três meses, tanta coisa boa chegou nesse período mesmo imerso ao caos, mas logo depois deixei de praticar a meditação que só retomei agora nesse retiro.
Vipassana significa ver as coisas como realmente são, é uma das técnicas de meditação mais antigas da Índia. Foi ensinada na Índia há mais de 2500 anos como remédio universal para males universais, ou seja, uma Arte de Viver. Você pode saber mais em dhamma.org
Vipassana independe de religião, crença, superstição… o que quer que seja, a meditação vipassana é livre para qualquer pessoa que queira viver essa experiência. Eu não vou descrever como é, como funciona, como é a programação, como são as coisas lá no Centro de Meditação. Esse é um experimento que os interessados devem buscar, só posso dizer que é super organizado, estruturado, seguro e que temos todo o suporte necessário para os dez dias de imersão em silêncio e meditação.
Vou contar agora um pouco da estrutura mental que percorri nessa oportunidade.
Todos nós temos um universo em comum: a dor, o amor, a alegria, a tristeza… as vicissitudes da vida. O sentimento humano, as emoções, o raciocínio, as glórias, as crises, o auge, o declínio… a impermanência e a busca por equilíbrio. Saber lidar com tudo o que nos ocorre fora e dentro de nós requer uma arte de viver, arte que a Meditação Vipassana ajuda a esclarecer.
Eis algumas das máximas que extraí a partir dos caminhos mentais que as experiências me levaram a resolver por meio da meditação. O significado é particular, não vem ao caso, mas o aforismo é universal e te convido a interagir conforme as suas vivências.
Quando você estiver nas encruzilhadas da vida em busca de porque, conciliação, explicação, respostas, significados e ressignificados, medite.
1. Você preferia ter vivido ou não ter vivido?
Se você preferia ter vivido você tem a resposta, como quer que tenha terminado, valeu a pena, você viveria de novo. Agradeça.
Se não preferia ter vivido, isso estava vinculado de alguma forma a algo que você queria ter vivido? Se tem vínculo e você não teve compreensão suficiente para ultrapassar o problema quando ocorria, então foi o preço que você pagou para aprender tal sabedoria. Ao tamanho da dor, o tamanho do aprendizado. Não é uma medida justa ou injusta, é como é ou como foi e se nada mudar ainda será. Compreenda. Eu tenho uma frase de mais tempo que considero: não espere que o outro mude ou que a situação mude, você é quem deve mudar caso queira uma percepção diferente.
Se não tem vínculo com algo que você quis e se trata de uma experiência indireta que afetou primeiro a alguém do seu convívio, então foi o preço que alguém pagou para você expiar e aprender. Você queria ter pagado esse preço? Tenha compaixão.
Se não está relacionado a interferência de alguém e ocorreu especialmente a você, aceite como sinais do universo para sua interpretação e autoconhecimento. Quando você busca respostas, enigmáticas ou não elas se apresentam, você as alcançará quando tiver a chave nas profundezas da sua mente. Identificar letras não é o mesmo que saber ler, mas identificar já é um grande passo, fique feliz por observar e aprender. Esteja atento agora.
Quando você reconhece um sinal mas não sabe interpretá-lo é porque a sua compreensão ainda não alcançou a natureza do sinal. Você pode desenvolver essa faculdade e chegar a uma conclusão mas as linhas do universo já terão se manifestado e você não terá de volta o tempo para fazer diferente aquela ocasião… é daqui pra frente. Mesmo quando for inconclusivo, seja no passado ou no presente, compreenda como parte dos mistérios da vida, se te angustia aprenda com isso e faça diferente da próxima vez. O “e se” existe apenas na sua imaginação, a imaginação é perigosa quando faz sofrer e quando ilude, tenha cuidado para não entrar em um loop de insatisfação e apego. Solte o controle, desapegue e respire. É necessário. O passado passou, a oportunidade se foi, a decisão expirou.
2. Aceite o tempo que durou, aceite como foi, aceite como é.
Entender a volatilidade de cada situação e o seu imprevisível tempo de ser e estar em nossas vidas é um dos maiores desafios que temos. A sabedoria da aceitação percorre caminhos profundos que nem sempre sabemos acessar. O labirinto de nossos pensamentos precisa amadurecer a emoção e tecer uma revelação autêntica dentro de nós, estar em plenitude com essa solução requer um coração saudável e liberto.
3. O sofrimento também é instrumento.
Compreender que a dor é uma via de aprendizagem e que geralmente traz os maiores e potenciais ensinamentos, é estar atento para saber sofrer sem aflição. Aquele que sofre com consciência sabe dissipar melhor a dor e tem tranquilidade para atravessar os acidentes da vida.
4. O não também é caminho.
Saber que a vida é feita de sim, não e ausência, torna o não parte da jornada. O importante são as respostas e a forma que lidamos com elas. Se você não gosta de respostas, experimente a ausência delas e você vai ver que o não passa a ser uma benção quando você o compreende bem. O sim é um desejo e desejos são passíveis de frustração, saiba disso e não se desmorone quando o não se impor. Respeite. A ausência apenas é, lide com ela para um sim ou não, se te assombra aprenda a enxergar no escuro ou ilumine a escuridão, você é capaz de transpor o que precisa e amar sem rejeição, seja na realidade ou no pensamento. O talvez é uma vírgula aguardando a sua ação seja na mente ou na prática.
Ter resiliência e otimismo para experimentar a correspondência e a não correspondência daquilo que queremos exige desprendimento e maturidade para entender o que é, como é, sem que a ânsia por controle nos domine. Aprecie o não da mesma forma que você aprecia um sim. O não abre caminhos que você não era capaz de imaginar, o não te fortalece, o não exige superação.
5. Você não agiu errado, você só agiu da forma que sabia agir.
Não é que você tenha agido errado, você só não sabia agir diferente. Não se culpe por errar querendo acertar ou quando não se sabe ser assertivo. Há lições na vida que escapam da nossa idealização e conhecimento… o ideal é um horizonte que nem sempre alcançamos; ao agir somos suscetíveis. Se não fizessemos nada, nada aconteceria. Você prefere o nada ou o conhecimento? Uma vez conhecendo, você então pode fazer diferente e alcançar uma forma de ser em equilíbrio com suas atitudes.
6. Não se preocupe com o tempo, faça o que deve ser feito.
Por vezes vamos nos desviar do caminho, a vida é impermanente, o ser humano é impermanente. Vamos sonhar outros sonhos, vamos viver temporadas, vamos construir, vamos destruir, empolgar, desistir, acertar e errar, vamos amar e perder um amor.
Vamos reencontrar a nós mesmos multifacetados após tantas transformações, fases e ciclos da vida. Precisaremos respeitar o passado, compreender que já não somos o passado. Abre-se o presente e só somos quem somos agora. Esqueça o antes e o depois, regule a sua avidez pelo futuro e o seu apego pelo passado, saia da imaginação e entre para a realidade. Flua com a realidade, seja a sua realidade.
Faça o que tem que ser feito, na sua idade, no seu tempo, no agora. O único terreno fértil é o agora. O passado e o futuro são tempos flutuantes de memória e imaginação, eles não realizam, são apenas telas que a nossa mente alcança, precisamos sintonizar da maneira certa para não interferir no que precisa ser feito no presente com trabalho, dedicação e inteligência. Quando você se perder nas interferências do tempo, lembre-se de fazer o que tem que ser feito, é assim que se molda a realidade, se você quer uma realidade diferente, faça diferente.
7. Tudo chega na hora que tem que chegar e tudo vai na hora que tem que ir.
Quando algo que nos faz bem chega, nos irradiamos de alegria. Quando esse algo se vai, começa a nossa angústia. Nos acostumamos ao extraordinário como se fosse comum e muitas vezes nem notamos o valor do que desfrutamos enquanto está acontecendo.
Quando a vida está fluindo, os pensamentos são mais sadios e de boa ventura, porém quando a mente se perturba, a fluidez estanca, os problemas se aproximam e se não são resolvidos o caos se instala, a crise se aprofunda e os pensamentos vazam para um poço aparentemente sem fundo onde a energia se contamina e a instabilidade assume. Perder o controle da mente e atormentar-se na oscilação das emoções é perturbador. Retomar a lucidez e acalmar as sensações exige sabedoria e a sabedoria muitas vezes vem com a perda. Perder ensina, amadurece e prepara você para um novo tempo, tal como uma metamorfose a sua natureza se transforma, é inevitável como a morte e retumbante como a vida. Acontece.
Ter serenidade para lidar com esse mundo em chamas requer uma sagacidade depurada e experiente… não tem como ter serenidade sem experiência, a experiência tem seu custo, é inegociável ou você aprende ou sofre quantas vezes precisar, lembre-se: o sofrimento também é instrumento.
Ter a capacidade de celebrar o que vem e contemplar o que vai, deixando ir sem apego requer sabedoria, calma, cura e libertação. A cura e a libertação ocorrem por meio da mente; saber acessar os mistérios da mente é um aprendizado importante que podemos entender, desenvolver e desvendar. Acredite.
A meditação vipassana tem um caminho de cura, libertação e iluminação.
No nível intelectual pode parecer singelo e comum cada máxima que eu trouxe, mas o ponto não é externo, essa é apenas uma camada superficial… a verdade é de dentro pra fora e está nas profundezas da mente. Sei que é difícil estabelecer a sabedoria na vida prática assimilando a verdade em nosso universo, por isso estou apenas apontando um caminho que funcionou pra mim, existem vários, esse eu vivi.
Com a meditação vipassana pude organizar essas sabedorias em minha estrutura e te garanto que no nível dos percursos da mente, nos pontos da emoção e em suas confluências entre corpo, alma e coração, seguramente é uma técnica que faz a diferença. Quando se aprende uma técnica milenar, comprovada pela ciência e pela experiência humana, temos a chance de internalizar uma sabedoria com firme determinação e prática, isso vai além do conhecimento erudito. Transcende. Transforma.
A vipassana passou a ser para mim um dos valiosos pilares que edificaram a minha vida adulta, uma arte de viver tão grandiosa tal como o espiritismo e o veganismo.
A partir das experiências dolorosas nos tornamos solidários uns aos outros. No fundo o sofrimento é o que mais temos em comum, é o que nos liga uns aos outros com empatia e tolerância. Já a felicidade, essa é um tabu que precisamos ressignificar pois poucos sabem vivê-la de forma natural. É preciso aprender a ser feliz, é preciso aprender a sofrer. Os extremos sempre vão existir, saber viver bem exige conhecimento, aplicação e disciplina. A realidade é implacável. Reconstruir os caminhos errôneos da nossa mentalidade é uma jornada que se emancipa com a qualidade da meditação. A realidade é implacável a seu favor ou contra você, tudo depende da sua maneira de ser e estar.
Tudo acontece antes na mente, entender a mente é um passo necessário para quem quer progredir.
Encontre o seu caminho e seja feliz!
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