A greve acabou mas quando começa a próxima?

Os hábitos e as (in)certezas na Educação Pública.

Tiago Hènrique
5 min readJun 26, 2018
Brasil, Minas Gerais, 26 de Junho de 2018.

O sindicato acabou de informar o retorno das atividades nas escolas estaduais mas as incertezas já batem a porta. A greve de 16 dias não foi uma das maiores, mas talvez uma das mais graves pelo atraso de pagamento e parcelamento de salários. Em Minas nós já registramos casos de 112 dias de greve na Educação, já registramos reposições de aulas que encerraram seus anos letivos em março de um ano seguinte. Quando se trata da Educação Pública, pela historicidade notável não há alívio pelo fim de uma greve mas sim uma aflição constante até que a próxima comece.

Infelizmente em breve ela retornará, anualmente elas acontecem, quase fazem parte do calendário, está impregnada no sistema e continuará acontecendo enquanto as mentalidades envolvidas sustentarem essas estruturas fazendo adesão a cultura grevista que já se revelou ineficiente no setor da Educação.

É importante saber que os professores reivindicam causas justas e que os governos são os maiores culpados pela ausência de aula nas escolas públicas. Eu não estou do lado do governo, eu procuro uma posição sensata e assertiva, independente se ela está no poder ou na solidão, eu estou do lado do trabalhador, do trabalho, o que não significa que eu deva ser a favor das greves. Eu acredito em outro caminho.

Centenas de matérias podem ser lidas sobre os motivos grevistas, notícias em Tv e rádio podem ser acessadas, vários sindicatos podem ser consultados, então deixo para aqueles que quiserem defender as greves que o faça e exerça seu papel de direito, onde devo lembrar que também me é direito expor opiniões contrárias sem ser censurado por isso.

A imposição de um ponto de vista sobre o outro é indevido e autoritário.

A minha intenção é incentivar outros olhares e novas maneiras de se enxergar, eu tento trazer informação, despertar conhecimento, instigar soluções e propor formas diferentes de agir: no pensamento e na conduta. Podem me chamar de teórico, podem me chamar de infoativista, podem me chamar do que quiser, eu não sou preso a rótulos tampouco a opinião enlatada dos que querem que a maioria arraste as opiniões da minoria, incluindo aqueles que carecem de instrução e são levados pela onda opressora que se veste de democracia, ignorando direitos e desrespeitando os mais vulneráveis.

Nesse momento eu quero despertar a atenção do próprio professor que adere a um movimento débil e que se sacrifica em vão: atrapalhando a sua própria vida, desperdiçando suas férias, recessos, sábados, dias de descanso, lazer ou os dias livres que teria para outras atividades que lhe convenha. Esse professor está trocando todos os seus benefícios por um costume grevista fraco e improdutivo. A greve dos professores não toca o coração dos governantes, isso é ilusão. A greve dos professores não comove a sociedade, pelo contrário, ela produz antipatia e raiva.

Toda mudança que ocorre ou conquista que é alcançada nessa categoria pode ter um triunfo sindical ou ter alguma ligação sindicalista, mas pouco tem a ver com a paralisação das aulas. Tem mais relação com o trabalho de advogados, lideranças e até mesmo de políticos, do que com a ausência do professor em sala de aula. Quando o professor para ele paralisa a sociedade. Dai me veio a lembrança de um texto que li ontem sobre a proposição da PEC 53/2016 que busca enquadrar a Educação como um serviço essencial; grifo:

A educação reflete diretamente no desenvolvimento do povo e, portanto, deve receber o tratamento de serviço de essencialidade extrema (…) A educação é indispensável para o desenvolvimento social, profissional e humano. Assim, é importante que a educação não fique à mercê de interrupções, sob pena de inviabilizar o próprio progresso da Nação (…) São considerados serviços ou atividades essenciais aqueles cuja paralisação pode causar prejuízo irreparável à sociedade e para os quais a lei exige limites nas greves.

Eu concordo que a Educação deve ser compreendida na Lei como um serviço essencial, torço pela aprovação desse texto que está em tramitação. Mas para minha surpresa, os ilustríssimos sindicatos e outros profissionais da área engrossam o coro contra a PEC 53/2016 porque entendem que isso vai ameaçar as manifestações grevistas; eu acho isso lastimável e ainda amplio o debate sobre esse proselitismo que assola o nosso país, partidário e politicamente mesquinho.

Explico: nós brasileiros em grande parte agimos como torcedores ou com partidarismo, esse é um projeto da senadora Rose de Freitas (MDB-ES). A proposta é boa, certo? Mas ela é do mesmo partido de Michel Temer, e agora? Se você é contra o Governo Temer e seu partido, como proceder? Bem, a questão é muito mais ampla mas o que quero ilustrar é o seguinte: você pode não concordar com um governo e nem se afeiçoar a um partido, mas se uma ideia é assertiva por que desprezá-la? Precisamos parar com essa somítica. Refletindo justamente esse ponto, com a vontade de desfazer nossos ódios e limitações envoltas em ego e inflexibilidade, ainda ontem escrevi:

É preciso ler o mundo. Bandeiras te fazem refém quando você a defende e ela está errada. Bandeiras te colocam em um lado e você se torna inflexível. Bandeiras te fazem ignorar as virtudes de outras liberdades, direitos e deveres. Bandeiras te tornam fanático, torcedor ou idiota. Leia o mundo, não se limite a causas egoístas, enxergue a pluralidade, acolha, enfrente, não seja opressor, tampouco covarde. Mude, transforme, provoque o progresso. Não escolha lados, enxergue a manipulação, não manipule, conscientize, informe, não seja demagogo, permita que o outro veja sem a influência da sua posição. A manipulação é mesquinha, a conscientização é reveladora. Conscientize, leia o mundo.

Ao meu ver, esse é o papel do Educador. Devemos priorizar o aluno, acolher a sociedade e não atrapalha-la ainda mais. Quando passamos por situações políticas tensas, enroladas em corrupções e incompetências diversas, devemos recordar que nós somos os adultos e não deveríamos descontar nossos problemas em nossas crianças e adolescentes. Nossos problemas devem ser resolvidos com aqueles que nos maltrata, o Governo. Nós não deveríamos afetar nossos estudantes, eles não são a causa desses problemas. Quando um professor exerce o seu direito de grevista, ele deve estar ciente de que está afetando diretamente o aluno, não o Governo. Os impactos da greve ao longo da vida escolar de cada estudante é profundo e muitas vezes causam danos irreparáveis, precisamos corrigir isso.

Quer pensar mais sobre esse assunto?
Acesse aqui tudo o que já escrevi sobre as Greves na Educação.

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MANUAL VEGANO

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