Na verdade nos isolamos diariamente
Cada escolha é determinante.
Quem somos nós em tempos que o convívio com nós mesmos se intensifica?
Alguns procuram alívio passageiro outros procuram respostas na alma e tem aqueles que simplesmente vivem o fluxo, e não há juízo a se fazer; somos todos humanos aprendendo a nos conhecer melhor e a conviver uns com os outros.
Quando acordo tarde tenho um ligeiro mal humor pois sinto que estou esperdiçando o tempo, hoje foi um desses dias, acordei tomei água com limão, um banho de sol, um banho de água, comi uma fruta, coloquei o fone de ouvido e fui lavar vasilhas. Música tocando, pensamentos viajando, eis que encontro a nostalgia sábia dos meus amigos de quinta a oitava série, quando brincávamos abrindo os braços e nos distanciando um dos outros na volta da escola dizendo: é preciso manter um metro de distância. Fui ao passado e sorri nesse momento até que meus olhos se enchessem d’água de saudade pouco depois…
Éramos garotos afirmando masculinidade, dizer isso hoje gera tanta polêmica não é mesmo?! Mas nos expressávamos sem qualquer maldade, a propósito como dizem: o mundo hoje anda chato. Apelidávamos todo mundo, zoávamos até a alma dos nossos colegas e todo mundo era feliz sem esse mundo politicamente correto. Mas, não é sobre isso que quero explanar, esse é um gatilho para demonstrar como nos isolamos de tempos em tempos na nossa linha de vida.
Se você reparar bem parece que morremos e renascemos em cada fase da nossa existência: primeira infância, infância, pré-adolescência, adolescência, pós-adolescência, vida adulta… é curioso, parte de nós fica no passado, parte de nós nunca mais viverá como viveu, nunca mais sentirá uma sensação, um sorriso único, um choro marcante, uma alegria, uma aflição.
A vida não rebobina e as vezes dá uma saudade imensurável!
Da família, dos amigos, da gente mesmo. Nessa vida adulta por vezes me pergunto: onde foi parar aquele menino? Cadê o adolescente que fui? Onde está o sonhador que parece se esconder no meu cotidiano cheio de tarefas, trabalhos e uma porção de coisas chatas que não me conectam ao espírito de realização que outrora eu sabia manejar? Eu fico me procurando, eu olho no espelho mas as vezes não me acho, isso é ser adulto? Me recuso, não pode ser!
Por isso digo que o isolamento que vivemos é diário. Nós nos isolamos da família, dos amigos, do passado. De repente entramos em uma nova fase e vivemos… apenas vivemos… uma nova família, novas amizades e um presente indecifrável. Ter consciência disso não automatiza a felicidade, parece apenas caminhar no dia a dia, sem novas conquistas, sem sonhos, sem a alegria que já experimentamos.
É importante saber que tudo pode parecer perfeito, mas é imperfeito se você não está conectado a essência de si mesmo sabendo se entregar ao presente tal como se entregava as fases anteriores: sem medos, sem julgamentos e sem comparações.
Saiba, a vida muitas vezes passa sem efeito quando não se sabe lutar pelos sonhos que adormecem pela falta de coragem. Mesmo que você já tenha tentado de tudo, quando escolhe se abater essa sua desistência abre o calabouço da infelicidade interior.
E isso também é isolar, isolar seus sentimentos, isolar seus sonhos, isolar as pessoas de seu convívio, isolar-se em distância e isolar-se daqueles que te procuram. O tempo todo isolamos e nos isolamos com a doce ilusão de que selecionamos aquilo que nos apraz, mas o que nos apraz muitas vezes é o comodismo, o conforto e o que é fácil. O que é fácil pode ser uma armadilha, o conforto não costuma promover a criação e o comodismo extirpa a boa ação.
É na ação que vivemos, é no trabalho de nós mesmos, e não confunda esse trabalho com aquele trabalho necessário que nos paralisa e nos rouba o tempo que precisamos para olhar para dentro de nossas verdades.
Pensando nisso, pra ser honesto há um tempo venho me observando inerte, na verdade eu sinto que já tentei tanto que me cansei sabe? Quantas vezes eu tentei e tentei mas a porta não se abriu? Depois de tanto tempo eu tenho me curvado aceitando a ver a porta fechada e isso tem me roubado a paz.
Eu me sinto uma pólvora de sonhos guardada em um barril.
Prestes a explodir posso criar um show de fogos ou desmoronar e nesses tempos de reflexão aprendo que embora estejamos confinados o mais importante é não confinar a nossa essência, é não insular os nossos sonhos, é não isolar a nossa humanidade, o mundo pode até parar mas a vida não para nunca.
Disso extraio a singela lição de que precisamos de sonhos para viver, entusiamo para motivar, energia para realizar e vontade para ser.
Viva a sua força e a sua fragilidade, não tenha medo de ser autêntico, não permita em sua imaginação que as experiências ruins superem as boas, concentre-se nas virtudes aprendidas, conheça a si mesmo e então você estará bem em qualquer situação da vida, ainda que uma nuvem te impeça de ver o céu.