Soluções que não exigem greve

​Reivindicar sem parar é mais salutar.

Tiago Hènrique
9 min readJul 13, 2018

A seguir 10 tópicos com minhas sugestões para reivindicar direitos e melhorias na Educação Pública sem fazer greve.

• Abaixo assinado para Lei de iniciativa popular.
• Aulas em praça pública.
• Reivindicar sem parar o trabalho.
• Manifestar nos dia de folga.
• Manifestar nas cidades.
• Reivindicar sem gritar em palanques sindicais.
• Divulgar verdades ao invés da mentira.
• Divulgar informações apropriadamente.
• Usufruir de gratuidade no transporte público e de cesta básica.
• Receber juros caso haja atraso no pagamento.

1º • Abaixo assinado para Lei de iniciativa popular.

Por que um sindicato que consegue mobilizar a maioria dos professores até hoje não mobilizou uma Lei de iniciativa popular? Todas as pautas reivindicadas repetidamente poderiam simplesmente estar dispostas em uma lei que bem fundamentada e estruturada juridicamente poderiam estar tramitado nas Câmaras de Deputados e Vereadores já que estamos falando de Escola Pública. Não tenho dúvidas de que esse ato pode unir todos os profissionais da Educação de escolas públicas e particulares em todos os níveis, pode unir pais e alunos, pode unir toda a sociedade e pode com muito mais força conquistar a simpatia da população, essa atitude pode culminar em uma comoção tão forte que seria constrangedor para um Governo se esquivar da aprovação de tal lei, desde que ela seja justa e meritória.

2º • Aulas em praça pública.

Ao invés de fazer greve por que não programar aulas em espaços públicos em períodos de reivindicações? Por que não dar uma aula para a sociedade? Por que não instruir a população? Por que não ensinar para o povo a enfrentar o governo de maneira inteligente, pacífica e sem opressão? É preciso convidar a comunidade para participar da democracia, para exercer sua cidadania. Nós como educadores temos o papel e as condições para transformar a realidade. É importante agir de maneira diferenciada para alcançar resultados diferentes.

3º • Reivindicar sem parar o trabalho.

Eu fui padeiro por três anos, nenhum dia de serviço nesse período foi parado para que melhorias em nossa categoria fossem conquistadas pelo nosso sindicato. A boa atuação sindical age com profissionalismo sem prejudicar empregadores e empregados, de maneira que também não prejudica aqueles que usufruem de seus serviços. Nas empresas privadas o trabalhador tem um senso de causas e consequências mais realistas, diferente do servidor público que muitas vezes se aconchega na sua estabilidade e pouco se importa com as consequências de seus atos. Infelizmente o que se nota é que o servidor público concursado tende a se aproveitar do erário. O sindicato da Educação é instruído mas não tem sido competente em suas ações de reivindicação que a todo momento convoca greve atrás de greve como se fosse a única ação possível. Pelos fatos se observa que essa estratégia não tem gerado resultados positivos na última década. É inapropriado dizer que é a greve que gera as conquistas da categoria, não é a greve: é o trabalho.

4º • Manifestar nos dias de folga.

Nós professores da Rede Estadual de Ensino em Minas Gerais, em um cargo de 24h desfrutamos de 4h para trabalho remunerado em casa, o que geralmente nos beneficia com um dia da semana livre de aulas, o que chamamos de dia de folga apesar de ser um dia de trabalho. Já que temos um dia livre por semana, por que não programar manifestações nesses dias? Em todos os dias da semana temos milhares de professores de folga que podem se revezar nesse sistema de manifestação.

5º • Manifestar nas cidades.

Reivindicar nas cidades e não somente nas capitais. Se repararmos bem as sedes dos governos são distantes dos polos populacionais: observe Brasília e a Cidade Administrativa de Minas Gerais, são lugares distantes para se fazer uma manifestação popular, são inacessíveis para a multidão. Contudo, seja na Federação ou no Estado nossas vidas acontecem nas cidades onde vivemos e trabalhamos. Por que não se fazer um calendário de manifestações simultâneas em todas as cidades? Isso gera mais engajamento, mais participação e ao meu ver chama mais atenção da sociedade. Reivindicações em lugares distantes, em datas espalhadas, aleatórias e sem cronograma não têm operado efeito de transformação. É preciso estratégia, é preciso ser constante, é preciso sair da ociosidade e trabalhar pelas reivindicações. Lembro: reivindicar não é sinônimo de greve, pode-se muito bem manifestar sem parar o trabalho.

6º • Reivindicar sem gritar em palanques sindicais.

Sindicalistas precisam dialogar ao invés de impor suas exigências, é preciso compreender a máquina pública ao invés de tentar forçá-la a algo que ela não é capaz de fazer naquele momento, por incompetência dos governantes ou por qualquer outro motivo. Defeitos governamentais se reparam na democracia com as eleições e para tal é necessário o envolvimento de todos e não só de uma categoria de trabalhadores, não se deve confundir as coisas. É preciso compreender ao invés de exigir. Dialogar com governantes ao invés de lhes impor os desejos sindicais. Para resolver os problemas da classe é preciso ter profissionais capacitados para intervir com assertividade. Eu não sou especialista em Gestão Pública que tal debater com eles? Que tal conversar com os governantes e participar das sessões abertas na Câmara nos deputados? Que tal contatar os representantes eleitos do legislativo e enviar suas sugestões ou denúncias? Que tal usar todo esse poder de mobilização para trabalhar pela política e não para convocar ou participar de greves?

7º • Divulgar verdades ao invés da mentira.

Muitos líderes sindicais tentam se apropriar de conquistas que não estão ligadas diretamente com o ato da greve, mas que tem ligação direta com reuniões que ocorrerem com uma dezena de pessoas ou tão somente com ações desempenhadas por indivíduos não-grevistas. Outro ponto crítico é dizer que a greve é uma luta de toda a classe dos professores. Mentira! Por que os professores de escola particular não estão fazendo greve? Mais uma mentira é dizer que estão lutando por Direito dos estudantes. Quantas reivindicações que defendem os estudantes já estiveram na pauta grevista? Quais estão agora? A greve dos professores é uma barganha em causa própria e isso pode ser feito sem lesar o aluno. É fácil exigir dos políticos e não participarmos da vida política, é fácil apontar defeitos no sistema deles e não enxergar nossos próprios erros. Com a nossa própria posição de poder e opressão fazemos o mesmo ou pior que os políticos: eles nos afetam, nós afetamos os outros e o ciclo continua atravancando o progresso da população mais carente. Sem honestidade não iremos alcançar virtudes.

8º • Divulgar informações apropriadamente.

Vivemos em um mundo de acessibilidade digital e isso está sendo desprezado por sindicalistas e grevistas que precisam melhorar suas estratégias de comunicação. Se as atitudes são boas, inteligentes e justas é importante dar a tais reivindicações canais apropriados de divulgação para que alcance a sociedade. É preciso trabalhar a informação com sinceridade e não com interesses politiqueiros que na maioria das vezes se infiltram nos discursos sindicais. É preciso apoiar o trabalhador e não causas políticas. Partidos vêm em vão, políticos entram e saem, o servidor continua. Não se deve usar as manifestações para interesses politiqueiros, estando isso claro é relevante investir em comunicação, divulgando boas ações em mídias de grande alcance. É preciso expor e documentar os absurdos que ocorrem com o servidor e com seus locais de trabalho, é necessário constranger o governo, dessa maneira a população poderá ver a origem das causas, dos acontecimentos e compreender suas consequências a fim de que se corrija tais defeitos. Quando o servidor público comunica ao povo: estamos em greve, sem fazer um debate, sem explicar os motivos, torna-se um ato egoísta e opressor. Para mudar isso que tal ir aos meios de comunicação para exibir todas as precariedades e problemas enfrentados pela categoria? Que tal documentar, entrevistar ou produzir conteúdo para divulgar em uma mídia assertiva que trate desses assuntos na ausência dos veículos tradicionais? Mais importante que fazer greve, é trabalhar para denunciar os problemas enfrentados.

9º • Transporte público gratuito e cesta básica.

Surpreendidos pela atual causa da greve de 2018 com atrasos e parcelamento de salário, é realista propor leis que permitam ao servidor público em caso de atraso no pagamento: ter direito ao transporte público e disponibilidade de cesta básica. Para tal basta que o governo crie um cartão de identificação do servidor e automatize esses procedimentos com comunicados em rede pública. Tão logo supermercados conveniados disponibilizarão a cesta e da mesma forma o transporte público cederá o passe livre. É uma sugestão que convém não só para o servidor público mas para todo trabalhador formal. Onde há interesse existe um caminho para a realização, basta boa vontade política.

10º • Recebimento de Juros caso haja atraso no pagamento

Considerando novamente atrasos e parcelamento de salários, é realista propor leis que reembolse o trabalhador em caso de atrasos no pagamento. Na ausência dessa possibilidade agora, dentro dos tramites legais, que tal reunir uma documentação para montar um processo: com contracheques, contas e seus juros, extratos bancários e o que for pertinente a fim de comprovar os prejuízos causados que carecem de reembolso? Mesmo sem uma lei desse porte vigente hoje, pode-se entrar judicialmente com uma ação conjunta ou mesmo individual contra o governo. Há pautas que não são exclusividade da Educação, são assuntos que envolve todo o funcionalismo, toda a sociedade. É preciso saber o que reivindicar e como reivindicar.

Com fazer tudo isso?

Trabalhando sem greve. Exigindo que o seu sindicato faça o serviço deles enquanto você faz o seu. Você pode também se articular com demais profissionais da área, você pode se comunicar com a população, você pode enviar sugestões ao governo e aos políticos, você pode com bases jurídicas processar o Governo ou auxiliá-lo a compreender suas demandas e a de diversos outros profissionais. Na greve se cruza os braços, de braços cruzados nada acontece de revolucionário no setor da Educação. Se não tivermos inteligência para mudar a realidade, a realidade sempre será a mesma. Com instrumentos de rigidez como é a ferramenta da greve estaremos medindo forças. Força contra força o governo ganha.

Você defende as greves na Educação?

Escreva sobre isso. Conte o que você faz nas greves. Conte como você contribui para a greve. Como você se manifesta. O que você fez, o que você faz. Conte como você apoia parado ou não. Defenda suas ideias, explique: como, quando, onde e por que a greve é importante. Como a greve traz benefícios e como ela repara os prejuízos causados aos estudantes, a si mesmo e a sociedade. Manifeste-se a favor do que você acredita, exponha seus argumentos e debata com fundamentos.​

Quem sou eu?

Sou professor efetivo no Estado de Minas Gerais desde 2014 e venho escrevendo sobre as greves e paralisações desde 2016. Para descrever as ideias que exponho e as críticas que faço uso como matéria prima a observação da realidade e a natureza dos acontecimentos vivenciados desde a minha vida de estudante em escola pública, até o presente, cujo exerço a função de servidor público. Para defender meus argumentos estudei diversas leis, pesquisei em sites especializados em Educação e protocolei alguns atendimentos na Secretaria de Estado de Educação, onde recebi orientações e amparo de profissionais especialistas em legislação, assim como de autoridades competentes que exercem o cargo de Inspeção Escolar. Você pode ter acesso a toda a minha pesquisa e análise em thvirtual.com/greves

Eu não tenho medo do que eu faço e nem me envergonho das minhas ideias. Tenho plena clareza dos meus atos. Conheço o meu coração, tenho a consciência tranquila e vivo em estado de paz.

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Leia mais textos meus na página inicial.

MANUAL VEGANO

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